domingo, 4 de setembro de 2011

Ainda bem que apareceste

Sobem ao palco. Dois pares de pés descalços arrastam-se freneticamente  naquele soalho de madeira ajoelhado perante o impetuoso trapo de veludo  rasgado que se estende até ao alto, tão alto! Desenha-se no ar um trilho de pó esvoaçante. Os holofotes iluminam o seu andrógeno cabelo loiro. Ele adora tocar-lhe, percorre o seu rosto sem bússola, conhece-lhe cada Norte. Sente -lhe as costelas marcadas no vestido primaveril que lhe tapa a nudez de tez pálida. Empurra-a. Ela volta girando às gargalhadas. É demente toda aquela beleza.Segura-a. Juntos dançam uma valsa de beijos, abraços e tesão. Perdem-se dentro um do outro.

"Rapaz vamos fechar, chega por hoje !"  O piano não se fez ouvir mais.

"Já está afinado!"_ disse ele,  ecoando os seus passos pela sala vazio enquanto as pontas do velho trapo de veludo rasgado encontravam-se uma à outra num nostálgico e já conhecido "Fim".


sábado, 3 de setembro de 2011

Lírico

No meu amanhecer o sol descobre-se no meio de almofadas brancas e suaves que derivam num vasto azul da cama. Os pássaros  cantam sonetos de alegria e contemplam-se uns aos outros com um "Bom dia!".O frio abraça-se num aconchego. O calor transpira-se na agitação. O meu amanhecer é escrito em pedaços de papel esquecidos no bolso  e por uma caneta  meio gasta (apenas os rabiscos são tão  simples assim). Sem ti o meu amanhecer é uma prosa desprovida de imaginação. Aguardo-te. Juntos tornamo-lo numa Poesia.











sábado, 11 de dezembro de 2010

A propósito do voicemail

Há dias li um artigo  cujo tema era : " Se é utilizador do Facebook e está num relacionamento tenha cuidado, pois é provável que acabe até ao Natal".
Se  Fiquei espantada com esta afirmação? A resposta é bem evidente, obviamente que NÃO!
Em "condições normais" ficaria admirada  com a insolência do autor, David McCandless, escritor e designer gráfico, Como pode ele julgar as relações de desconhecidos tendo como base uma rede social?
No entanto sendo eu utilizadora assídua desta rede social não me oponho. Porquê? Exactamente porque sou utilizadora assídua, assiduíssima do facebook.

Tentando não ferir susceptibilidades (inclusive a minha) dou razão a este senhor, e dou-a com imenso desagrado. Esta  frase é apenas um espelho , cuja imagem é real e a ampliação é nula. De todo que não é um exagero, é uma verdade que podemos confirmá-la em imensos perfis do facebook.
Ainda há poucos dias reparei que várias pessoas tinham no seu perfil um questionário com o título : "100 verdades sobre ti". Este questionário abordava vários temas, como gostos pessoais, amizades, banalidades e intimidades. Pois bem, este ultimo tópico é  que é louvável de alguns aplausos, porque realmente é um show, É um extravasar de limites, É o cúmulo da exposição, É uma mistura de um "Big Brother" com uma revista "Maria" , com uma pequena diferença, o lucro não tem valor algum.
Quanto vale a nossa privacidade?
Será do nosso  interesse sabermos se a "XX" alguma vez engravidou? Quantos abortos já fez nos curtos anos da sua  vida ?  Se o "XY" andou a "comer" duas  ao mesmo tempo? Se as perguntas por si só são insólitas, o que dizer das suas respostas.
Sim! Há quem perca o seu tempo a pensar no nosso entretenimento, e  nós agradecemos, porque afinal  passamos momentos muito engraçados a ler  estes diários digitais, primeiro porque nos são incutidos nas actualizações do facebook, depois porque tem imensa piada saber sobre a vida alheia, isto é um facto que normalmente nos é comum, principalmente às meninas.
Ver tanta informação privada publicada só seria admissível se cada pessoa tivesse meia dúzia de amigos no facebook ( e seis já é um  numero folgado) ,o que não acontece. Será que têm noção que uma parte de si está a ser divulgada e absorvida por desconhecidos, amigos de amigos, colegas da faculdade, colegas de emprego, futuros patrões, …? No caso dos miúdos ainda se percebe a ingenuidade e infantilidade com que manuseiam esta arma e cabe aos seus pais alertar para este espectáculo, mas no caso de pré-adultos admite-se?
Não me cabe a mim aceitar a conduta da XX nem do XY, porque como diz Sócrates "Aquilo que não puderes controlar, não ordenes".  Mas o facebook , principalmente daqueles que todos os dias fazem questão de o usar, é a personificação do que cada um é, e como tal é nossa obrigação aceitar juízos de valor que possam ser feitos sobre os mesmos. Se a XX e o XY fazem das redes sociais um diário aberto, têem de ter também essa  abertura para perceberem que são alvos de estudos como o de David McCandless, e de textos como este (feitos por alguém que usa o facebook todos os dias que pode , e que   prezando  o respeito pela sua privacidade, tenta não ter deslizes que a comprometam), e é inconcebível quando alegam que são alvo de injúrias ou difamação.






sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A explicação de Austin


Mr Deluxe franziu a testa « Amo-te baby ?» perguntou. «Pois bem, também não sei. Mas repare caro Deluxe, para além da palavra baby soar a pouco romantismo (do clássico digamos) o seu uso comum, numeroso e diverso torna-a incogruente.» «Hãn?» fez Mister Deluxe. « Quem pratica tal incogruência de palavras não sabe o porquê de  falar sobre amor, não sabe para quem falar de amor. » disse Austin apagando o cigarro no cinzeiro.





Diálogo re-inventado de "O que diz Molero" sobre as palavras do verbo amar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Frames de uma despedida


A manga do seu casaco está ensopada. Os olhos já não choram, o tecido é bom. Foi estátua por segundos. Mas ele  não esperou, e foi-se  embora.
Adeus, disse ela, vendo-o partir.

Mochila às costas

Não existem companheiros de uma vida, mas sim acompanhantes.